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ALIAN                       

Das tranças em espigas de milho em Itaperuna aos concorridos salões de Nova York, capital da moda. 

 

Quanto vale acreditar em um sonho?  A resposta pode estar em conhecer intimamente nosso maior anseio, ao ponto de saber que toda trajetória é válida para chegar lá. O que nos difere das multidões nos enriquece o espírito. Alian, próspero empresário da beleza, trilhou por vários caminhos para realizar seu maior objetivo na vida: ser cabeleireiro. Desde muito cedo era consciente da sua vocação e teve que batalhar contra dificuldades financeiras e preconceitos, mas chegou muito além do seu sonho de menino. O empresário nos recebeu no final do expediente em seu elegante salão de beleza no Centro de Nova Friburgo. Era véspera de mais uma viagem de negócios para Nova York. O objetivo: visitar seu mais novo salão na “cidade que nunca dorme”, o Tapestry Salon & Spa, inaugurado em junho e terceiro da rede.

 

FRIBOOK – De onde surgiu seu interesse em ser cabeleireiro?

 

ALIAN – Já nasci cabeleireiro. Desde que me conheço por gente quero ser cabeleireiro. Tem uma coisa engraçada que fui lembrar um tempo atrás sobre esse detalhe. Quando tinha uns seis anos saí de Bom Jesus de Itabapoana e fui morar em Itaperuna. Perto da casa onde morava tinha uma plantação de milho. Achava a coisa mais linda aqueles cabelinhos que davam nas espigas de milho, todos coloridos e de acordo como iam crescendo, mudavam de cor. Invadia a plantação para fazer tranças nos cabelos das espigas de milho. Seu Ângelo, dono da plantação, ficava uma fera comigo, reclamando que as tranças atrapalhavam o crescimento do milho (risos)! Mas a vocação também veio através da minha mãe, que queria ser cabeleireira. Cortava meu cabelo e da vizinhança toda. Ela era autodidata. Mas naquela época era muito difícil seguir a profissão. Nunca foi à escola, e por trabalhar na roça, meu avô dizia que a caneta era a sua enxada.

 

FRIBOOK – E como foi o começo de carreira?

 

ALIAN – Em Itaperuna, por ser uma cidade do interior, era muito difícil ser cabeleireiro. Ainda por cima, toda minha família era tradicional. E todos eram caminhoneiros. É claro que queriam que eu fosse caminhoneiro também! Mas havia também o lado financeiro. Precisava ajudar a sustentar a família. Comecei a trabalhar com nove anos vendendo verduras nas ruas com minha mãe. Era comum no interior plantar e vender. Com onze para doze anos comecei a trabalhar como servente de pedreiro pela manhã, de tarde trabalhava numa confecção com estampas, fazendo silkscreen, e à noite ainda estudava, com permissão especial, pois naquela época menor não podia estudar naquele horário. Queria ser cabeleireiro, mas sofria preconceito da família toda. Quando completei quinze anos cismaram que tinha que aprender uma profissão. Fui ser mecânico na oficina do meu tio. Montava e desmontava motores até uns dezessete anos, quando encrenquei, e disse para mim mesmo que o que queria mesmo era ser cabeleireiro. Me inscrevi em um curso de cabeleireiro, mas, claro, precisava pagar. Larguei os estudos e comecei a trabalhar numa obra do SESI e à noite ia para o curso. Mas para a família quem fazia o curso era minha irmã, a quem eu só “acompanhava”. Mas depois que me formei, ninguém aceitou que fosse trabalhar num salão. Então, aos dezenove anos entrei para trabalhar na tesouraria de uma fábrica de laticínios, onde aprendi tudo sobre administração e finanças, foi muito bom. Infelizmente, depois de dois anos a fábrica mudou de cidade e acabei entrando numa camisaria, onde fui gerente por três anos. Durante esse tempo minha irmã abriu seu salão, onde aos sábados conseguia praticar um pouco. Também vendi jóias e roupas como ambulante. Quase completando vinte e cinco anos, isso em 1999, decidi sair de Itaperuna para seguir minha verdadeira vocação. Passei por Vitória sem sucesso e fui parar em Guarapari, onde fui assaltado por duas vezes no período de seis meses. Voltei para Itaperuna, mas o retorno durou  apenas três dias. Por convite de uma amiga e sem dinheiro nenhum, vim visitar Nova Friburgo e me apaixonei. Comecei trabalhando num salão no Castelinho. No primeiro ano todo meu dinheiro era para fazer curso de cabeleireiro no Rio. Viajava de baldeação todo segunda para me especializar cada vez mais. Consegui emprego em um salão mais bem localizado, onde fiquei por três anos. Por possuir uma boa carteira de clientes fui convidado a trabalhar em um novo salão na Rua Ariosto Bento de Melo. Fiquei lá por nove meses e decidi abrir meu próprio negócio. Em 2003 reformei um antigo casarão na Rua Ernesto Basílio, onde minhas habilidades de pedreiro foram colocadas em prática. Parte do local tornou-se meu primeiro salão e a outra parte minha residência. Depois de dois anos e meio surgiu a oportunidade de comprar o atual salão, e com somente quarenta mil reais reformei o local e abri o salão.

 

FRIBOOK – E como surgiu a oportunidade de abrir um salão em Nova York?

 

ALIAN – Há cinco anos atrás fui convidado pelo Lou Derose, um americano marido de uma grande amiga, Claudia, para abrir um salão em Nova York, enquanto passávamos férias em Cancun. Era uma proposta que ele tinha  feito anos atrás, já que ele tinha um salão em Long Island. E, entre uma bebida e outra, perguntou de novo e eu aceitei. Daí até começarmos realmente a trabalhar juntos demorou quase um ano. Estava quase desistindo da ideia quando Lou me ligou me informando que tinha conseguido o imóvel para abrirmos um novo salão. E como dei minha palavra, fui para lá. Fechamos negócio e assim que voltei contratei uma professora de inglês particular para aulas diárias. Depois voltei para ajudar com tudo, até como pedreiro, eletricista e tudo mais. Enquanto o salão estava em obra, trabalhei no antigo salão de Lou. Quando o novo salão inaugurou, reformamos o antigo, para manter o padrão. Foi tudo correndo muito bem, mas depois de dois anos surgiu a necessidade de abrirmos mais um salão, para justificar o custo das despesas das viagens e estadia em Nova York. Então começamos tudo de novo e inauguramos nosso terceiro salão agora em junho. Fizemos uma pequena festa e saiu até em um jornal local. Hoje, nos três salões, temos 75 funcionários  registrados.

 

FRIBOOK – Saiu do interior, de origem humilde, com todos os prognósticos para não se tornar um cabeleireiro e venceu! Falta alguma coisa? Algum sonho?

 

ALIAN – Acho que sonho a gente cria todo dia. Toda vez que você chega a um objetivo, você quer alguma coisa a mais. Hoje tenho vários outros sonhos. Antigamente meu sonho era ser cabeleireiro, depois ter um salão. Nunca tive o sonho de ter um salão em Nova York, foi uma coisa que foi acontecendo. Agora tenho o sonho de ter dez salões em Nova York. Mas sou muito pé no chão e sei que as coisas tem que acontecer pouco a pouco.

 

FRIBOOK – Qual é o segredo para concretizar tantos sonhos?

 

ALIAN – Não existe uma coisa específica, mas sim um conjunto de coisas. Primeiro não ter medo de executar um serviço. Encarar tudo como um desafio a ser conquistado, desde que seja possível. No mundo não existe nada que alguém saiba que você não possa aprender. Que seja um idioma, ou uma profissão, se você realmente quiser você aprende. Talvez você não obtenha tanto sucesso como certas pessoas naquela área especifica, mas é possível. Tem que saber de tudo um pouco. Bom cabeleireiro, boa manicure, boa depiladora tem em toda esquina desta cidade. Tem muita gente boa que não sabe se autoadministrar ou não aceita ser administrada. As pessoas falam de crise. Passei três meses em Nova York e quando cheguei só escutava isso. Não quis saber dos registros. Estava todo mundo proibido de falar em crise. Vamos cuidar dos clientes. Ligar para saber o que estão precisando. Você não pode ver só o lado ruim da coisa. Tem que saber administrar seu negócio. Se automotivar e acreditar no que você faz. Todo mundo passa aperto. Trabalhar, e não perder tempo reclamando! E no final do mês, comparado com o ano anterior, tivemos o dobro de faturamento. Cadê a crise? Para mim, já passou.

 

FRIBOOK – Um conselho para o cabeleireiro que esteja começando.

 

ALIAN – Nunca achar que é bom demais. Quem achar que não precisa se atualizar fica obsoleto. Tem que se atualizar sempre. A área da beleza é muito dinâmica!

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