top of page

STEVE VAI                                                                                                                           por Ismael Carvalho - Rock Company

“That Steve Vai... what a nice little boy!"

 

Uma experiência fantástica! É a melhor descrição para o workshop que o guitarrista americano Steve Vai realizou no Rio de Janeiro no dia 27 de junho de 2015. A tour de workshops, batizada de "Alien Guitar Secrets", um trocadilho com o álbum de Vai "Alien Love Secrets" lançado em 1995, percorreu nove cidades brasileiras e pode-se dizer, sem exageros, que foi um marco na história da guitarra, justamente por ser bem diferente dos outros workshops que diversos músicos realizam todos os anos mundo afora. Steve Vai conseguiu ser bem intimista em um auditório lotado, compartilhando pensamentos e ensinamentos baseados em sua bem sucedida carreira de mais de 35 anos de experiência como músico (N. do E. - Steve Vai iniciou sua carreira bem jovem e, aos 20 anos, entrou para a banda de Frank Zappa, sua maior influência musical. Vai participou também das bandas Alcatrazz (substituindo o virtuose da guitarra Yngwie Malmsteen), da banda solo de David Lee Roth (ex-vocalista do Van Halen) e do Whitesnake, entre outras até se consolidar em sua carreira solo).

 

A apresentação no Rio foi em Campo Grande, sede da Escola de Música Luciano Alf, que trouxe Vai ao Brasil. Chegamos ao auditório da Igreja Nova Filadélfia, onde aconteceu a apresentação, por volta das 16h. Pouco depois Steve Vai chegou ao local para a passagem de som e ajustes finais. Depois foi para seu camarim onde permaneceu até minutos antes da abertura das portas para o público. Vai recepcionou a platéia, que lotou a casa, da melhor maneira possível: concentrado, tocando sua guitarra enquanto o público ia tomando seus lugares no auditório. Logo depois dirigiu-se à platéia por meio de uma tradutora que o acompanhava e ia traduzindo para ele as perguntas feitas, bem como as respostas do músico. Vai nos contou que acredita que tudo o que desejamos realizar em nossas vidas, o próprio Universo se encarrega de nos dar. Citou como exemplo uma experiência sua com a Orquestra Metropolitana da Holanda, com quem gravou e se apresentou diversas vezes, além de compor peças musicais encomendadas pela orquestra em diversas ocasiões. Numa dessas ocasiões, Vai nos conta que a orquestra havia encomendado a ele uma determinada composição, mas por estar em turnê com sua banda ele não tinha quase nenhum tempo disponível para se dedicar a isso. Seria uma composição para setenta instrumentistas executarem em aproximadamente vinte minutos de música, o que levaria cerca de quatro meses para composição, arranjos e etc (Steve Vai escreve à mão suas composições), e ele precisaria de pelo menos quinze horas de trabalho diariamente para isso, tempo que ele não dispunha. Então ele escreveu num pedaço de papel tudo o que ele queria que essa nova composição, ainda não composta, fosse. E encorajou a plateia a fazer o mesmo quando surgissem situações semelhantes com cada um. Escreveu então que queria que a composição fosse fácil de ser tocada na guitarra pois não  tinha tempo para nada muito complexo. Que fosse fácil para a orquestra executar também, pois não haveria muitos ensaios. Que as partes da música fossem profundas e tão belas quanto ele as conseguisse compor e que fossem bastante intensas também. Daí ele colocou um pedido secreto no pedaço de papel pedindo para que essa composição fosse algo único que nem ele nem ninguém houvesse composto ou ouvido antes, uma encomenda grande, segundo o próprio Vai. Terminada então sua carta ao Universo, que no caso seria ele mesmo, já que a função de compor a música dessa forma seria trabalho dele, ele guardou o papel e seguiu sua vida com os afazeres diários que sua carreira demanda, mantendo uma expectativa alta para que em breve pudesse realizar a "receita" que ele havia escrito naquele papel, e que o satisfizesse plenamente, porque segundo ele, a primeira pessoa que tem que ser agradada e gostar da música que seria ainda composta teria que ser ele mesmo, caso contrário a coisa toda não funcionaria. Ele esperou o resultado surgir tendo a certeza em sua mente de que algo aconteceria e seria compensador. Segundo ele não era uma questão de ter esperança ou fé de que aconteceria, mas sim a certeza interior de que realmente aconteceria e, isso sim, seria o que realmente faria tudo dar certo.


Até que, alguns dias depois, ele estava saindo de casa e, quando colocou a chave na porta de seu carro, a composição inteira veio à mente... pronta e da maneira que ele havia desejado. Ele nos contou isso para que nós também possamos ser encorajados a fazer esse tipo de coisa, tendo a certeza de que alcançaremos o que desejamos de verdade. Esse é um processo que ele utiliza sempre na vida e, segundo ele, sempre traz resultados. Depois ele nos mostrou trechos de guitarra gravados por ele em seu laptop e que virariam músicas brevemente. Vai nos disse que, talvez para nós, aqueles “ruídos” de guitarra que estávamos ouvindo naquele momento poderiam não significar muito, mas o que ele ouvia ali já eram músicas prontas. Nos contou que geralmente cantarola as melodias centrais de suas composições como se fosse para a voz humana, como foi o caso na composição de "For The Love Of God", uma belíssima composição sua presente em seu segundo álbum solo, "Passion And Warfare" de 1990, música que ele considera sua melhor composição até hoje. Uma curiosidade sobre essa canção é que Steve Vai é vegetariano e gosta de fazer jejuns constantemente. E uma dessas ocasiões foi justamente no período em que estava agendada a gravação dessa música, num período de abstinência total do guitarrista.

 

A plateia, obviamente formada em sua maioria por guitarristas, tanto profissionais quanto amadores, curtia atenta à cada detalhe revelado por Vai e seguiram-se diversas perguntas relacionadas ao equipamento utilizado por ele, à sua longa carreira e à sua técnica em geral. Steve nos contou que quando o assunto é guitarra ele ainda se sente como um garotinho empolgado, tamanha é a paixão que tem pelo instrumento como um todo. Desde o shape (forma) das guitarras, até o som produzido por elas, segundo Vai, “são verdadeiras obras-primas. Quando olho para cada uma delas eu sinto a paixão empregada por quem as construiu, a forma como foram construídas e os detalhes de cada guitarra”, frisando ainda que algumas de suas guitarras ele sabe exatamente quem foi o luthier* responsável pela construção dos instrumentos. No início dos anos 90 Steve Vai concebeu junto à empresa fabricante de guitarras Ibanez, sediada no Japão, seu modelo de guitarra próprio, batizada de Jem Universe, instrumentos que ele utiliza até os dias de hoje. Cada uma de suas guitarras têm um nome próprio, batizadas por ele mesmo. Sua favorita chama-se EVO, mas na apresentação do Rio de Janeiro ele utilizou um modelo branco, batizada de Flo III.

 

 

Outro momento marcante do workshop foi quando o editor da Fribook, André Lima, também guitarrista, contou a Steve Vai que quando seu filho Vitor estava pra nascer, ele colocava fones de ouvido junto à barriga da mãe do menino para que ele ouvisse música. Bach, Beatles e outros grandes compositores estavam na lista de canções que embalavam o bebê, ainda dentro do útero. Entre as músicas, “Whispering A Prayer”, de Vai. Depois que o menino nasceu, essa se tornou uma de suas músicas favoritas e, tanto pai quanto filho, sempre se emocionam ao escutá-la. André perguntou qual foi a inspiração de Vai ao compor essa bela música e o guitarrista respondeu que essa melodia veio à mente um dia dentro de um ônibus, quando ele estava em tourné na Irlanda. Ele acordou às 4 da manhã com a melodia principal da canção na cabeça e queria compor algo que fosse como uma canção de ninar. Vai agradeceu a André pelo comentário, por dividir essa pequena história com ele e seu público e em seguida disse a André que a tocaria naquele momento, dedicando-a a ele e seu filho. Um momento mágico e muito bonito da apresentação. Por fim houve jams dele com músicos previamente convidados, como o guitarrista André Nieri, professores da Escola de Música Luciano Alf e para o final ficou um dos pontos altos da jam, que foi o dueto entre Steve e o jovem guitarrista Patrick Souza que, fã confesso de Vai e com muita técnica, feeling e similaridades ao estilo do mestre, arrasou inclusive levando o próprio Steve Vai a comentar em tom de brincadeira que não sabia mais o que fazer frente à execução de seus próprios licks, por Patrick. Ao final da jam ele foi ao microfone e apontando para Patrick disse “esse é o meu filho” perante tanta similaridade de estilos entre os dois. Em seguida abraçou o jovem guitarrista que deixou o palco visivelmente emocionado.

 

Chegando ao final do workshop, Steve Vai mesmo após 3 horas de performances e de palestra, recebeu praticamente todos os presentes ao palco para tirar fotos, autografar itens, como diversas guitarras que muitos levavam para ele assinar, sempre com muita simpatia e um sorriso no rosto. Ao receber nosso editor no palco, ainda deu um emocionado abraço, agradeceu novamente por compartilhar a história e disse que é esse tipo de coisa que o motiva e o enche de alegria. Perceber como suas composições atingem a vida das pessoas de forma tão positiva.

 

Grande noite, grande evento. Deixamos aqui nossos agradecimentos ao produtor Luciano alf e sua excelente equipe, que mais uma vez brindou o público com mais esse evento musical. Aliás, mais um de uma série que sua produtora realiza ano a ano, trazendo grandes músicos ao nosso país para workshops. E nosso agradecimento também ao grande Steve Vai, um músico único que nos traz tanta alegria com suas performances e composições extraordinárias. Além de ser um exímio músico e compositor, fato conhecido por todos devido à sua bem sucedida carreira, Steve Vai nos mostrou um lado que fica longe dos holofotes e que, talvez por isso, nem todo mundo conheça. A postura de um ser humano sem estrelismos, sempre simpático, solícito, compartilhando boas energias e bons ensinamentos com seus milhares de fãs por todo o mundo. Valeu, Steve!
 

bottom of page